Rastreabilidade para Usuários Finais por Meio da Tecnologia Blockchain
Quando pensamos na tecnologia blockchain, um dos destaques é certamente a possibilidade de proporcionar rastreabilidade em toda uma variedade de setores. Nesta postagem, analisaremos algumas das situações comuns em que a tecnologia blockchain pode contribuir enormemente com o processo.
Rastreabilidade na gestão da cadeia de suprimentos
A rastreabilidade da cadeia de suprimentos é a melhor garantia para comprovar a qualidade de um produto ou serviço. Há literalmente milhões de mercadorias e serviços nos quais múltiplas empresas participam do processo produtivo (fornecedores, transitários de carga, agentes aduaneiros, companhias logísticas, etc.). Nesse contexto, a tecnologia blockchain pode fornecer uma camada de informações à prova de fraude em que tanto os desenvolvedores quanto os clientes finais possam avaliar a procedência do produto. Provenance, Grassroots, Bext360 e IBM Blockchain for Supply Chain são bons exemplos. A dexFreight, parceira da RSK, está literalmente transformando o modo como a logística é gerenciada por meio da tecnologia blockchain. Como dito no website da companhia, a dexFreight baseia-se em um ecossistema de protocolos de código aberto usando contratos inteligentes e aprendizado de máquina que proporciona visibilidade e transparência sem precedentes. O sistema de reputação objetiva e identidade verificada baseado em blockchain permite que expedidores e transportadoras se encontrem, busquem oportunidades de negócios e negociem contratos em um mercado peer-to-peer com menos atritos. Ainda, os pagamentos em token com transações internacionais instantâneas reduzem custos em um ecossistema peer-to-peer.
Rastreabilidade no setor farmacêutico
Fornecer rastreabilidade de ponta a ponta no setor farmacêutico é de fundamental importância na prevenção da falsificação de remédios. Como analisamos em uma postagem anterior, Mediledger, Farmatrust, Medrec e Modsense são bons exemplos de como a tecnologia blockchain pode ser usada para fins de rastreabilidade no setor da saúde. A tecnologia blockchain aplicada ao setor farmacêutico irá contribuir profundamente com o processo de verificação da autenticidade de remédios, prevenindo falsificações e aumentando a conformidade dentro da cadeia de suprimentos do setor como um todo.
Rastreabilidade no setor de alimentos
Nos últimos anos, houve diversos escândalos no setor de alimentos quando avaliada a qualidade dos produtos comprados pelo consumidor final. O escândalo do leite, em que cerca de 300.000 bebês chineses adoeceram após o consumo de leite contaminado, é um exemplo pertinente de por que os consumidores precisam de uma tecnologia à prova de fraudes que lhes possibilite averiguar cada etapa do processo produtivo. A rastreabilidade no setor de alimentos mitigaria exponencialmente riscos de intoxicação alimentar, também permitindo que vegetarianos, veganos e amantes de alimentos orgânicos rastreassem adequadamente a procedência de certo produto. Grassroots, Bext360, Provenance, TaelPay e Alibaba´s Food Trust Framework são bons exemplos. O Walmart também publicou um caso de estudo detalhado em que explica como a empresa tem usado o Hyperledger Fabric para proporcionar transparência sem precedentes à cadeia de suprimentos dos alimentos.
Rastreabilidade e previsibilidade na política monetária
Uma das principais desvantagens do sistema monetário legado é que os cidadãos não têm qualquer controle direto sobre a taxa de inflação nem sobre o custo do dinheiro (taxa de juros) a longo prazo. Em um sistema monetário estável, o princípio é que exista uma autoridade responsável por controlar a oferta de dinheiro, de modo que flutuações em seu valor não levem a uma crise financeira na forma de recessões ou deflação. No entanto, a história econômica demonstrou ao longo das décadas diversos exemplos em que a estabilização não foi possível e processos de hiperinflação ou desvalorização colapsaram diferentes economias. No fim das contas, tudo se resume a alguns fatos simples: detentores de dinheiro fiduciário não têm nenhum controle direto sobre o poder de compra dessa moeda a longo prazo, pois eles não controlam diretamente a inflação nem as taxas de juros.
É possível que a tecnologia blockchain proporcione uma estrutura em que os cidadãos disponham de mais certezas em relação ao poder de compra de suas moedas a longo prazo?
As CBDCs (moedas digitais de bancos centrais) são objeto de extensa pesquisa em diversos países. O trabalho do FMI denominado Casting Light on Central Bank Digital Currencies [trazendo à luz as moedas digitais de bancos centrais] e o relatório Central Bank Digital Currencies [moedas digitais de bancos centrais] da IBM são bons exemplos de como esta tecnologia vem sendo explorada. Ainda, se considerarmos que aparentemente o J.P. Morgan Chase será o primeiro grande banco americano a criar sua própria criptomoeda, o Goldman Sachs adquiriu a Poloniex já em 2018 e o FMI publicou recentemente um artigo sobre o assunto, veremos que todos esses são indicadores de que a tecnologia blockchain poderia, de fato, se tornar uma estrutura tecnológica para o desenvolvimento de políticas monetárias.
Dessa forma, como a tecnologia blockchain poderia contribuir com o processo? O dinheiro programável poderia fornecer uma nova estrutura monetária em que os governos teriam a possibilidade de desenvolver políticas monetárias com uma taxa de emissão fixa. Em outras palavras, os governos não mais poderiam imprimir dinheiro à vontade e teriam que aderir a uma taxa de inflação estrita. Assim, é claro, haveria mais credibilidade, pois os cidadãos teriam maior controle sobre a taxa de juros. Credibilidade e confiança são as bases de uma economia segura e, nesse aspecto em particular, a tecnologia blockchain poderia contribuir profundamente se os governos respeitassem as regras monetárias que definem. Entretanto, os cidadãos também podem não gostar da ideia de perder privacidade se o dinheiro for totalmente removido do sistema. Além disso, as taxas de juros negativas também têm sido o centro de extensas análises conduzidas por diversos bancos centrais, ao passo que os cidadãos prefeririam em muitos casos preservar uma forma de valor (como o dinheiro de papel) que rende nenhum juro do que uma variação que poderia render uma taxa negativa. As CBDCs vão definir as bases de uma nova estrutura monetária global? Só o tempo irá dizer, já que se trata possivelmente de um dos usos mais controversos da tecnologia blockchain. Se você tem interesse nesse assunto em particular, não deixe de ler a postagem do CEO da RSK sobre o tema e nossa recente publicação sobre moedas digitais de bancos centrais.